Em 1930, quando o padrão-ouro começava a deixar de ser predominante, face a uma fenomenal diversificação do sistema financeiro, o grande economista John Maynard Keynes, cunhou a seguinte descrição:
“O ouro, inicialmente pairando no céu com sua consorte, a prata, tal como o sol e a lua, tendo em seguida despido seus sagrados atributos e vindo à Terra como autocrata, pode agora ser relegado à sóbria posição de monarca constitucional; e ainda é possível que nunca seja necessário proclamar uma república. “
Parece que Keynes, com toda sua genialidade, previa que num futuro não muito distante haveria uma outra revolução, ainda mais disruptiva, que levaria o mundo a adotar novas formas de padronização monetária. Parece que essa “proclamação da república”, a qual se referiu Keynes, finalmente chegou, através das criptomoedas, que surgiram provocando uma transformação sem precedentes, desafiando a hegemonia dos sistemas financeiros tradicionais.
Criadas e armazenadas eletronicamente em blockchain, as criptomoedas, constituem uma tecnologia descentralizada que assegura a segurança e a transparência das transações. Através do uso de algoritmos de criptografia complexos, elas oferecem um nível de segurança que é uma das suas principais vantagens em relação às moedas convencionais. Para se navegar nesta nova era econômica que se descortina é vital compreender o que são e para que servem as criptomoedas.
O papel das criptomoedas pode servir como uma forma de dinheiro digital, porém elas são vistas como um investimento, uma ferramenta financeira, que transcende fronteiras, proporcionando transferências internacionais rápidas e de baixo custo. Na visão de muitos especialistas elas podem ser um poderoso meio para fomentar a inclusão financeira em regiões onde o acesso a serviços bancários é limitado.
Ao explorar e compreender o vasto potencial das criptomoedas, torna-se cada vez mais claro que elas não só têm o poder de transformar a maneira como conduzimos negócios, mas também podem representar uma nova dimensão para inovações financeiras e tecnológicas.
A abordagem dos países em relação às criptomoedas tem variado bastante, dependendo de uma série de fatores, incluindo a estabilidade econômica do país, sua abertura à inovação tecnológica e a pressão política existente.
A realidade indica que- as autoridades monetárias e entidades globais ao redor do mundo- estão de olho no aumento do uso de negócios financeiros, usando moedas digitais (também chamado de “tokenização” de ativos) nos últimos anos.
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Na verdade, os principais bancos centrais, estão se aprofundando, investigando ou até já experimentando formas de lançar sua própria moeda digital (CBDC-Central Bank Digital Currency), cada um com suas próprias metas e maneiras próprias de fazer isso acontecer. El Salvador, está entre os mais liberais e já adotou o Bitcoin, como moeda legal, desde setembro de 2021.
O Banco Central do Brasil (BC), está alinhado com essa tendência e, desde o ano passado, tem atuado para criar uma versão digital da nossa moeda, o Real Digital, que passou a ser conhecida como Drex. A partir de março deste ano, O BC iniciou testes com uma plataforma-piloto para operações com a moeda digital soberana, o ‘Piloto Drex’, com duração prevista até fim de 2024.
O BC define a Plataforma Drex como “um ecossistema de registro distribuído (em inglês Distributed Ledger Technology – DLT), no qual intermediários financeiros regulados converterão saldos de depósitos à vista e em moeda eletrônica (Drex), para que os seus clientes tenham o acesso a vários serviços financeiros inteligentes.”
O objetivo do BC é que “o Drex de varejo viabilize o acesso da população a vários tipos de transações financeiras seguras com ativos digitais e contratos inteligentes liquidadas em Drex de atacado, emitido pelo BC dentro da Plataforma Drex”.
Os serviços financeiros inteligentes, executados com segurança na Plataforma Drex- por serem automatizados e programáveis- facilitarão o surgimento de novos provedores de serviços financeiros, bem como o desenvolvimento de modelos de negócios altamente inovadores. Tudo isto por um custo bem mais baixo que o atual, capaz de promover uma ampla democratização financeira.
Nesta fase de testes o BC, criou inclusive um fórum específico para compartilhar “consultas, trocas de informações e a adequada orientação das expectativas acerca do Piloto Drex, do desenvolvimento da Plataforma Drex e de outros aspectos relacionados ao Drex”.
O Fórum Drex, tem funcionando como um comitê consultivo permanente, atuando como canal de comunicação com os agentes de mercado e as entidades representativas de instituições reguladas pelo BC.
Já o Piloto Drex, engloba instituições autorizadas (com acesso direto a contas e passivo digital do BC), usuários finais simulados (que farão transações “tokenizadas”) e a Secretaria do Tesouro Nacional, que fica responsável pela liquidação das transações.
Mais do que moeda digital, o Drex pretende ser uma infraestrutura capaz integrar, pela primeira vez em um único lugar, tanto dinheiro quanto ativos financeiros tais como ações, debêntures e títulos públicos.
Os usos envolvendo uma moeda digital, como Drex são infinitos, incluindo a interação futura com a “internet das coisas” e a utilização em qualquer país do mundo, sem que haja necessidade de conversão, o que poderá inibir os crimes como a lavagem de dinheiro e facilitar a tributação.
Por mais paradoxal que seja, uma das vantagens do projeto brasileiro é justamente não estar mais avançado que, por exemplo a plataforma chinesa. Isso permite que as demais iniciativas em curso no mundo, sejam observadas com a máxima atenção, servindo de modelo em inovação de serviços financeiros, mas sem ameaçar o papel dos bancos.
Seguindo essa linha de preservação do papel dos bancos, no modelo brasileiro, somente instituições financeiras, irão acessar diretamente o Drex junto ao BC, assim como acontece hoje com o dinheiro físico. Já os usuários finais (varejo) terão acesso a versões intermediadas por bancos, o chamado “Real tokenizado”.
O Drex não está apenas a caminho, junto com o PIX, ele está prestes a demolir e reconstruir completamente as nossas concepções tradicionais de transações monetárias e investimentos. Num futuro muito próximo, em um piscar de olhos, e sem nenhuma viagem ao cartório, você será capaz de adquirir um automóvel e transferir a titularidade, fazendo tudo digitalmente. Será o fim da era burocrática como a conhecemos. Prepare-se para uma transformação radical na maneira como você interage com o dinheiro – uma era de eficiência, inovação e sem precedentes está à porta!