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Reflexões sobre possíveis Cenários tecnológicos para 2024

Com a virada do ano de 2024 uma das boas práticas para vislumbrar o que vem pela frente é ficar de olho nos grandes eventos de tecnologia, como o Web Summit

Com a virada do ano de 2024 uma das boas práticas para vislumbrar o que vem pela frente é ficar de olho nos grandes eventos de tecnologia, como o Web Summit (1). Em novembro passado na edição de Lisboa foram abordados cinco temas que devem fazer parte dos debates ao longo deste ano, inclusive em abril, na edição do evento programada para o Rio de Janeiro.

1) Inteligência Artificial e Proteção de Dados

Desde o início de 2023, grande parte das discussões sobre direitos autorais, privacidade e treinamento de modelos de Inteligência Artificial Generativa se deu no campo de conteúdos em texto ou imagens estáticas. Agora, com o avanço da multimodalidade — ou seja, da capacidade da máquina de analisar elementos mais complexos, como sons e vídeos —, o poder criativo e invasivo da IA ampliará o debate sobre a captura de dados.

É eminente que, com o avanço da tecnologia, a utilização de algoritmos de IA fazem-se presentes e necessários em diversos segmentos do mercado brasileiro, sendo o setor de marketing, vendas, setor financeiro e, também, o poder público, os principais usuários desse mecanismo.

No setor de marketing e vendas, a IA vem se mostrando cada vez mais necessária para o atendimento aos clientes, por meio de chatbots e para realizar o direcionamento personalizado de anúncios para os consumidores. Já o setor financeiro tem usado a Inteligência Artificial para processos de análises de crédito, investimentos, criação de contas digitais e combate a fraudes. Além disso, o Poder Público tem utilizado a IA para desenvolvimento de softwares. Tão logo, a Inteligência Artificial se mostra essencial para o desenvolvimento das relações de consumo, da qualidade de vida dos usuários e, também, como mecanismo que incentiva a inovação e a produtividade.

2) Sustentabilidade e super Tecnologias

A transição energética vai exigir mais do que investimentos e boa vontade. Para alcançarmos as metas climáticas acordadas no tempo necessário, tecnologias de ponta como computação quântica e Inteligência Artificial precisarão ser aceleradas. É importante descobrir novos materiais e novas fontes limpas de energia enquanto preservamos o máximo possível de recursos naturais existentes. A combinação do digital com a natureza física deve dar o tom das próximas grandes transformações.

Cerca de 4,5 bilhões de pessoas vivem, hoje, em aglomerados urbanos. Esse contingente representa 56% da população mundial e a maior parte está concentrada em 29 megacidades com mais de 10 milhões de habitantes e em 44 metrópoles com 5 a 10 milhões de moradores. Essas grandes cidades consomem mais de 60% da energia produzida no planeta. Ainda respondem por 70% das emissões de gases de efeito estufa e 70% do bilhão e meio de toneladas de lixo lançadas anualmente no meio ambiente. Fora isso, a concentração de asfalto e de concreto, os elevados índices de poluição atmosférica e o desmatamento transformaram as grandes cidades em ilhas de calor que contribuem de forma relevante para o aquecimento global.

A expectativa da ONU é que a população urbana chegue a 6,5 bilhões de habitantes em 2050 (70% do total
mundial). Como não é mais possível imaginar a sustentabilidade do planeta sem pensar em cidades sustentáveis, centenas de engenheiros, arquitetos e pesquisadores das mais diversas áreas se desdobram para gerar tecnologias mais limpas, capazes de mudar o modelo de desenvolvimento.

3) Live Commerce e a reconfiguração das redes sociais

Quando analisamos os últimos 18 meses, tem ocorrido uma “batalha acirrada” entre as redes sociais. Enquanto o X (antigo Twitter) procurou reformular seu modelo de negócios, a Meta lançou o Threads para competir diretamente com o X. Mas foi o TikTok que obteve mais sucesso e passou a pressionar as concorrentes com um modelo algorítmico mais focado em conteúdo e menos em conexões sociais. Com tanta informação circulando, capturar a atenção se tornou um desafio enorme. Uma das formas de fisgar os consumidores tem sido as transmissões ao vivo, no chamado Live Commerce, tendência importada dos países asiáticos e que deve crescer este ano. Para isso, não bastam bons produtos. Dessa forma, o papel dos influenciadores digitais no consumo seguirá tendo destaque e relevância nas redes.

Quando se fala em vendas, uma excelente ferramenta para o empreendedor são as redes sociais. De acordo com uma pesquisa recente do All INN, em parceria com a Opinion Box:
– 87% dos consumidores já fazem suas compras online;
– 75% utilizam as redes sociais para busca de produtos;
– 74% dos consumidores costumam utilizar o Instagram, o Facebook e outras redes sociais para fazerem suas compras.

4) Web3 e cripto

O real digital, chamado de Drex, deve ser lançado ainda em 2024. Trata-se de uma CBDC (Central Bank Digital Currency) com semelhanças e diferenças se comparado aos ativos tradicionais, como o Bitcoin. O Drex será emitido pelo Banco Central do Brasil e, uma vez em posse das instituições financeiras, poderá ser “tokenizado”, ou seja, programável. Será interessante ver como os grandes bancos vão criar oportunidades em cima dessa novidade. Ao mesmo tempo, o mercado independente segue firme, apesar das turbulências envolvendo grandes corretoras recentemente. Agilidade, funcionalidade e segurança vão ditar os rumos das transações digitais, seja por meio distribuído ou intermediado.

Alguns criptoativos estão tentando acelerar a construção da web do futuro. Por isso, ganharam o apelido de tokens da “Web 3.0”. A Polkadot saiu do forno em 2016 com a pretensão de ser a base da Web3. Além disso, também assumiu o difícil papel de ser uma ponte entre as blockchains, resolvendo um dos grandes problemas do mercado: a interoperabilidade das plataformas.

Já o Basic Attention Token surgiu para evitar o bombardeado por anúncios. Em 2015, para lidar com esse problema, Brian Bondy (cofundador do navegador Mozilla Firefox) e Brendan Eich (criador da linguagem de programação Javascript) lançaram o Basic Attention Token. O BAT roda no Ethereum e está associado ao navegador Brave, que remove a publicidade e têm a opção de participar de um programa para ver anúncios privados; em troca, eles ganham tokens BAT, que podem ser guardados ou trocados por moeda fiduciária.

5) Ecossistema de startups

Com todas as discussões e turbulências de 2023, existe uma grande expectativa para o retorno expressivo de investimentos mais consistentes em startups. A redução das taxas de juros, ainda que gradual, e o controle da inflação devem atrair de volta, aos poucos, o capital de risco para impulsionar o empreendedorismo. O cenário é desafiador mesmo para quem já alcançou o sucesso.

O ecossistema de startups no Brasil tem crescido significativamente nos últimos anos, estabelecendo polos reconhecidos em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis e Porto Alegre. De modo geral, o ecossistema de startups no Brasil inclui elementos como:

  • Investimentos: nos últimos anos houve um aumento considerável no número de investidores-anjo e fundos de venture capital que estão dispostos a investir em startups em estágio inicial.
  • Aceleradoras: existem várias aceleradoras de startups no Brasil como a Startup Farm, a ACE Startups, que oferecem programas de incubação e aceleração para startups em estágio inicial.
  • Eventos: existe uma grande comunidade de empreendedores e startups, e muitos eventos que acontecem ao longo do ano como a Campus Party, o Startup Summit e o CASE, além de uma série de eventos locais.
  • Incubadoras: várias incubadoras fornecem espaço físico, mentoria e recursos para startups em estágio inicial, como a Incubadora Tecnológica de Empresas da Universidade de São Paulo (USP), a Incubadora Tecnológica de Empresas da COPPE/UFRJ e a TecVitória (ES).
  • Hubs de Inovação: são formados por algum tipo de patrocínio de grandes empresas para o surgimento de espaços que funcionam como um ambiente compartilhado e oferecem subsídios à startups com foco na área de atuação da empresa central. Alguns exemplos de patrocinadores relevantes que estabeleceram Hubs de Inovação incluem o Banco Itaú, com o desenvolvimento do espaço Cubo, o Google, através do Campus São Paulo, e o Bradesco, com o InovaBra Habitat.

Considerações finais

A Inteligência Artificial continuará como um tema central. “Um debate que ficou bastante latente foi o da responsabilidade relacionada à tecnologia propriamente dita”, conta André Miceli, CEO da MIT Technology Review Brasil. “Por mais de uma vez, ouvimos que essas questões são, acima de tudo, sociais, questões humanas que acabam norteando o desenvolvimento. A tecnologia, por si só, não vai piorar, nem atenuar vieses e todas as questões discutidas em relação ao potencial de dano da IA. Essas preocupações têm muito mais a ver com a forma como vamos usá-la nos algoritmos, nas redes sociais, nos produtos que criarmos.” As discussões sobre regulação e inovação foram norteadas pelas preocupações éticas. Uma delas é se as empresas que estão construindo soluções de IA hoje, estão fazendo isso, desde o início, pensando em uma tecnologia responsável. O posicionamento do mercado em relação a isso parece dividido: enquanto alguns são mais conservadores e temerosos em relação aos potenciais riscos da IA, outros estão dispostos a aproveitar o movimento para criar oportunidades de negócios.

A reflexão sobre o futuro da IA incluiu colaboração entre humanos e IA na construção de conteúdo, enfatizando a inevitabilidade da presença da tecnologia em nossas vidas e a necessidade de aprender a lidar com seus desafios, como por exemplo tecnologia na energia e no desenvolvimento de startups. Nesse sentido, as startups que lidam com transição energética trouxeram luz para o conceito de Deep Tech, pois requerem mais tempo e investimentos consideráveis devido à complexidade dos processos envolvidos.

Um ponto relevante que deve marcar presença será evolução da interseção entre Inteligência Artificial e transição climática. Desde o uso de soluções de computação de áudio para detectar vazamentos de água até a sensorização de produções agrícolas para evitar desperdício de alimentos, os debates se voltaram para uma abordagem pragmática sobre o problema climático.

Marketing e as novas ferramentas de compra e venda também foram explorados, com ênfase nas micro comunidades e no live commerce, que promovem transparência e confiança nas interações entre compradores e vendedores. O alerta final foi para a necessidade de mais transparência por parte das empresas que utilizam dados para desenvolver soluções relacionadas à Inteligência Artificial.


(1) O Web Summit Lisboa reuniu mais de 70 mil participantes, incluindo mais de 2,6 mil startups expositoras de 160 países, 800 investidores e 300 parceiros. Fonte: Artigo Especial MIT – jan/24